Outro dia eu sonhei que o mundo estava acabando
Desconfio que, se eu sentar e for pensando com calma, conseguiria lembrar de todas as pessoas pelas quais eu me apaixonei ou pelo menos tive algum tipo de queda mais significativa. Algo como um cruzamento de Martinho da Vila com Lou Bega, mas com substancialmente menos suíngue.
Não contaria eu dizer, por exemplo, que quando era criança a então apresentadora Angélica exercia um certo fascínio sobre mim — e desconfio que o fato de ela usar botas imensas tenham alguma coisa a ver com isso, ou que pelo menos tenham exercido um efeito prolongado na minha mente.
A primeira paixonite de que tenho recordação foi lá pelos meus 6 ou 7 anos de idade, na primeira série. O nome dela era Larissa e ela também ela loira. Nosso caso foi tórrido; meteórico: ela tinha brigado com o então namoradinho dela (o Felipe) e eu tinha levado uma rasteira de um garoto esquisito (o Ivan), então estávamos os dois deixados de lado e cabisbaixos numa aula de educação física. A tristeza nos uniu e foram um ou dois dias incríveis até que ela descobriu que eu ainda não tinha aprendido a amarrar o tênis. Ruíra o paraíso.
Depois disso teve a Luciana. Eu já tinha meus 9 anos e chamei ela pra dançar durante a festinha de aniversário de alguém da nossa sala na escola. Ela recusou (também era loira).
Com o tempo aprendi minha lição e abrangi meus horizontes. Teve a do beijo no fliperama; teve a da tarde inteira sem falar nada no sofá de uma loja de eletrônicos; teve a que me deu vontade de vomitar no shopping. Teve uma que ficou abraçada comigo durante uma tarde inteira e, várias ligações de telefone durante a semana depois, disse (através de uma amiga nossa em comum) que não tinha nada a ver.
Pelo menos eu gosto de acreditar que dei mais sorte nas vezes em que essas sequências de pequenos constrangimentos se tornaram relacionamentos de verdade — ou que, pelo menos, encontrei o que aqui vou chamar de “equilíbrio de resultados” nas três vezes que aconteceram: de um deles eu saí com saldo neutro de outro, com uma grande amiga e de outro, não.
Mas hoje eu estou sozinho e outro dia eu sonhei que o mundo estava acabando. Era como se fosse um furacão que ia desfazendo tudo aos pouquinhos e eu estava num lugar com escadas íngremes, junto de outras pessoas que estavam procurando abrigo na parte mais alta. Algumas se ajudavam a subir e iam criando algum tipo de companheirismo ali, naquela beirada da existência.
E eu estava triste, mas não porque ia morrer e sim porque não tinha ninguém pra encarar o fim juntos. De mão dadas e sorriso no rosto.